segunda-feira, 21 de março de 2011

Bento XVI fala sobre a Transfiguração no ângelus


Queridos irmãos e irmãs,

Agradeço ao Senhor que me permitiu viver nesses dias os Exercícios Espirituais, e estou agradecido a quantos estiveram próximos de mim na oração. O domingo de hoje, segundo da Quaresma, é chamado da Transfiguração, porque o Evangelho narra este mistério da vida de Cristo. Ele, após ter preanunciado a seus discípulos sua paixão, “levou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os fez subir a um lugar retirado, numa alta montanha. E foi transfigurado diante deles: seu rosto brilhou como o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz” (Mt 17, 1-2). Segundo os sentidos, a luz do sol é a mais intensa que se conhece na natureza, mas, segundo o espírito, os discípulos viram, por um breve tempo, um esplendor ainda mais intenso, o da glória divina de Jesus, que ilumina toda a história da salvação. São Máximo Confessor afirma que “as vestes brancas levam o símbolo das palavras da Sagrada Escritura, que se tornaram claras e transparentes e luminosas” (‘Ambiguum’ 10: PG 91, 1128 B).
Diz o Evangelho que, junto a Jesus transfigurado, “apareceram Moisés e Elias, conversando com ele” (Mt 17, 3); Moisés e Elias, figura da Lei e dos Profetas. Foi então que Pedro, extasiado, exclamou: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias” (Mt 17, 4). Mas Santo Agostinho comenta dizendo que nós temos só uma morada: Cristo; Ele “é a Palavra de Deus, Palavra de Deus na Lei, Palavra de Deus nos Profetas” (‘Sermo De Verbis’ Ev. 78,3: PL 38, 491). De fato, o Pai mesmo proclama: “Este é o meu filho amado, nele está meu pleno agrado: escutai-o!” (Mt 17, 5). A Transfiguração não é uma mudança de Jesus, mas a revelação de sua divindade, “a íntima compenetração de seu ser com Deus, que se converte em pura luz. Em seu ser uno com o Pai, Jesus mesmo é Luz da Luz” (‘Jesus de Nazaré, 2007). Pedro, Tiago e João, contemplando a divindade do Senhor, são preparados para enfrentar o escândalo da cruz, como se canta em um antigo hino: “No monte te transfiguraste e teus discípulos, no quanto eram capazes, contemplaram tua glória, para que, vendo-te crucificado, compreendessem que tua paixão era voluntária e anunciaram ao mundo que tu és verdadeiramente o esplendor do Pai” (t. 6, Roma 1901, 341).
Queridos amigos, participemos também desta visão e deste dom sobrenatural, dando espaço à oração e à escuta da Palavra de Deus. Ademais, especialmente neste tempo de Quaresma, exorto-vos, como escreve o Servo de Deus Paulo VI, “a responder ao preceito divino da penitência com algum ato voluntário, além das renúncias impostas pelo peso da vida cotidiana” (Const. ap. ‘Pænitemini’, 17 de fevereiro de 1966, III, c: AAS 58 [1966], 182). Invoquemos a Virgem Maria, para que nos ajude a escutar e seguir sempre o Senhor Jesus, até a paixão e a cruz, para participar também da sua glória.

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